
Por isto a oração neste salmo: “Senhor, faze com que saibamos como são poucos os dias da nossa vida para que tenhamos um coração sábio” (v.12). No entanto, por ser a vida curta, muita gente faz o contrário – deixa de ter um coração sábio. E tenta aproveitar o que pode de Carnaval a Carnaval, sem se dar conta que o obeso Momo deixa na avenida as cinzas de inconsequências, insanidades, loucuras. Mas ele faz o que lhe compete, pois, segundo a mitologia grega o deus Momo foi expulso do Olimpo para ser na Terra o rei dos loucos e zombar dos humanos. Foi isto outra vez neste trágico feriadão.
E então outra estranheza: as Cinzas após o Carnaval – esse período religioso da Quaresma que contempla um rei coroado no Calvário. Não é uma absurda contrariedade? A festa da folia versus a contemplação da cruz? Não é esquisito a coroa da glória na cabeça do rei da loucura, enquanto a coroa de espinhos ferindo aquele que espontaneamente envelhece para oferecer nova vida? Não é maluquice o deus zombador escolhido como anfitreão do maior espetáculo da Terra, enquanto o Senhor da Terra ser zombado e rejeitado? Troca-se o duradouro pelo fugaz, a eternidade pela finitude.
Mas o apóstolo Paulo reconhece que os seguidores do Momo têm a mesma impressão sobre os seguidores de Cristo: “De fato”, diz ele, “a mensagem da morte de Cristo na cruz é loucura para os que estão se perdendo; mas para os que estão sendo salvos, é poder de Deus” (1 Coríntios 1.18). Mas então, quem está certo da cabeça? Paulo responde: “Pois aquilo que parece ser loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria humana, e aquilo que parece ser a fraqueza de Deus é mais forte que a força humana” (1 Coríntios 1.25).

E aí vejo Jesus parecido com Benjamin Button, que nasce velho e fraco, fica bonito e morre novo. Isaías lembra: “Ele não era bonito nem simpático (...) Era alguém que não queremos ver” (53.2,3). Jesus percorre o caminho inverso da vida, do velho para o novo, morre quando deveria estar nascendo. Tudo para ser a própria ressurreição e o maior espetáculo do mundo. Pois “quando o corpo é sepultado, é feio e fraco; mas quando for ressuscitado, será bonito e forte” (1 Coríntios 15.43).

São ou não são coisas estranhas que faz a gente pensar?
Marcos Schmidt
pastor luterano