29/09/2009

Não se esqueça do principal


Lembram daquele alpinista que cortou fora uma das mãos? Aron Ralston é o nome dele. Em 2003 ele caiu de uma montanha nos Estados Unidos e ficou com a mão direita presa entre as rochas. Depois de cinco dias agonizando, sozinho naquele deserto, precisou tomar a decisão mais radical da sua vida. "Eu consegui primeiro quebrar o rádio e minutos depois quebrei o cúbito na área do pulso", referindo-se aos dois ossos do antebraço. Para concluir o serviço, usou o seu canivete e finalmente ficou livre, livre para a vida.

Em outras situações não é a mão, mas coisas que persistem nas mãos e prendem o corpo à morte. Tais como a bebida, o cigarro, as drogas, o jogo, o volante perigoso do carro, o cartão de crédito, ou até mesmo a mão de outra pessoa. Às vezes é o próprio trabalho, a exemplo da operadora francesa France Telecom, onde nesta última segunda-feira ocorreu o 24º suicídio nos últimos 18 meses. Por isto, dependendo do caso, a decisão precisa ser tomada logo, antes que não haja mais tempo para a escolha. Foi o que fez o meu amigo Teno Luguesi, 69 anos. Devido à diabete, precisou amputar as duas pernas. Hoje ele está feliz da vida, igual ao alpinista. Afinal, quando existe chance para escolher entre a vida e a morte, a gente não pensa duas vezes.

- “O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira?” (Marcos 8.36), pergunta Jesus. Por isto ele radicaliza: “Se uma das suas mãos faz com que você peque, corte-a fora! Pois é melhor você entrar na vida eterna com uma só mão do que ter duas e ir para o inferno” (Marcos 9.43). O problema não é o “mundo inteiro”, mas a “vida verdadeira pela metade”. Na verdade, tudo nesta vida terrena é presente do Criador. Mas quando este “mundo” prende a mão, o único jeito é cortar fora para ficar com o que interessa. E se o alpinista mais tarde confessou que não sabia de onde veio a coragem para livrar-se da mão, o seguidor do “Caminho, da Verdade e da Vida” sabe. Vem de cima.

A história da mulher com uma criança no colo bem que poderia ser uma parábola de Jesus. Ao passar diante de uma caverna, ouviu uma voz misteriosa: - “Entre e pegue tudo o que você desejar, mas não se esqueça do principal. Lembre-se, porém que depois de sair, a porta se fechará para sempre”. A mulher entrou e encontrou muitas riquezas. Fascinada, ajuntou tudo o que podia no seu avental. E a voz misteriosa advertia: - “Não se esqueça do principal”. Carregada com ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta se fechou. Foi então que ela lembrou-se do principal: o filho que carregava no colo tinha ficado lá dentro.

Marcos Schmidt
pastor luterano

23/09/2009

Do que a terra mais garrida?


Nesta terça-feira chegou a lei junto com a Primavera obrigando a execução do Hino Nacional uma vez por semana nas escolas públicas e particulares de Ensino Fundamental. Não sei se foi esta a intenção, mas deveríamos cantar o “Ouviram do Ipiranga” sempre inspirados pelo perfume primaveril deste lugar abençoado. Ou como diz o verso: “Do que a terra mais garrida (florida), teus risonhos, lindos campos têm mais flores”. No entanto, nossos hinos por vezes têm cara de inverno, daqueles que faz a gente ficar encolhido na cama, “deitado eternamente em berço esplêndido”. Omissos, coniventes. Porque se o Brasil é gigante pela própria natureza, se é belo, forte, impávido colosso – isto se deve graças ao vasto e rico território. Mas se o futuro pretende espelhar essa grandeza, o brado retumbante do grito do Ipiranga necessita de um povo heróico.

Por isto não basta cantar o hino uma vez por semana. Isto é coisa de todos os dias, começando lá por Brasília. E se os nossos governantes e políticos fogem à luta, se temem quando se ergue da justiça a clava forte – então não adianta obrigar nossos filhos cantarem “nem teme, quem te adora, a própria morte”. Uma lei pode até fazer a gente decorar, mas é somente a transformação moral, cívica e política, capaz de traduzir palavras complicadas em gestos construtores de uma pátria amada, Brasil.

“Não se enganem”, admoesta a Bíblia, “não sejam apenas ouvintes dessa mensagem, mas ponham em prática o que ela manda. Porque aquele que ouve a mensagem e não a pratica é como um homem que olha no espelho e vê como ele é. Dá uma olhada, depois vai embora e logo esquece de sua aparência” (Tiago 1.22-24). De fato, isto acontece também na igreja. A gente canta de cor e salteado os hinos, mas depois esquece o significado. E daí vem o recado: “Se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a ele” (Romanos 12.1).

Então pouco resolve enfiar na cabeça. É preciso colocar no coração. É o jeito de Deus: “Eu porei a minha lei na mente deles e no coração deles a escreverei” (Jeremias 31.33). Fórmula didática experimentada em Jesus (Hebreus 8.10). E assim a terra garrida é a própria vida. É o que diz a Bíblia: “Porque somos como cheiro suave do sacrifício que Cristo oferece a Deus, cheiro que se espalha” (2 Coríntios 2.15). Perfume que se renova a cada dia graças a um raio vívido de amor e de esperança que à terra desce.

Marcos Schmidt
pastor luterano

21/09/2009

Culto no KM 180

Bruna e Jóice, As confirmandas do Km 180!

Culto no Km 180!



08/09/2009

Congresso de Servas, Leigos e Crianças








A banda "Veritas" que animou o Congresso.






Momento de animação, a dupla Darcy e Dirceu!










O pastores que estavam no Congresso!





Assistindo a palestra!

Congresso de Servas, Leigos e Crianças




As crianças no seu congresso!

Grupo de crianças de Porto Velho se apresentando!




Entrada dos estandartes!





A saliva de Deus


A confiança do consumidor brasileiro neste mês de agosto teve uma queda conforme resultado da pesquisa “Índice de Confiança do Consumidor”. É uma “acomodação” após período de confiança em alta, explicam os responsáveis pelo estudo. Enquanto isto, outra pesquisa no mesmo período registra igualmente uma queda de confiança no governo do presidente Lula. A explicação é devido à crise do Senado e ao embate entre a ex-secretária da Receita Federal e a ministra-chefe da Casa Civil.

Fico imaginando uma pesquisa sobre a confiança na religião. Nem penso nas outras religiões – penso na minha, mais diretamente em mim, eu que carrego o título de pastor. Penso também naqueles que são seguidores da minha denominação – gente que é a cara de uma igreja. Qual seria o grau de confiança das pessoas de fora? Bom, ruim, mais ou menos? Estaria em queda, em elevação?

Vi no Jornal Hoje desta terça-feira uma matéria dizendo que boa parte dos consumidores entra numa loja por causa da vitrine. Durante a entrevista com uma especialista sobre a importância da boa vitrine, pensei com os meus botões: Qual a vitrine de uma igreja? Acho que é um conjunto de coisas, mas todas dependendo de meios, de instrumentos. Algo parecido com a história daquele surdo-mudo curado por Jesus (Marcos 7.31-37), onde o evangelista destaca a boa impressão das pessoas que assistiram: “Tudo o que faz ele faz bem”.

Três detalhes neste texto bíblico interessam quando o assunto é confiança. Jesus tirou o homem do meio da multidão, narra o Evangelho. O atendimento foi individual, personalizado. Um serviço indispensável. Outro detalhe: Jesus pôs os dedos nos ouvidos dele. Tocou nele, relacionou-se de maneira íntima e carinhosa, indicando o problema e a solução. Terceiro: Jesus cuspiu e colocou um pouco de sua saliva na língua do homem. Depois olhou para o céu, deu um suspiro profundo e disse: “Efatá” – que significa “abra-se”. Jesus poderia simplesmente curar o homem com o seu olhar. Isto lembra que o poder de Deus para desobstruir o que está lacrado sempre acontece por meios visíveis. Para abrir o céu Deus usou o próprio Filho, o Deus de carne e osso – a única “saliva” (João 14.6). Hoje Deus continua abrindo os corações pela saliva do Evangelho – pregadores e Palavra; pela saliva do Batismo – água e Palavra; pela saliva da Santa Ceia – pão, vinho e Palavra.

Na verdade, o índice de confiança do consumidor no assunto “igreja” é o resultado destes três quesitos: tratamento personalizado, o dedos de Jesus no problema e na solução, e a saliva de Deus que realiza o “efatá”. Sem esquecer que na vitrine sempre estarão aqueles que foram “curados”.

02/09/2009

Dia do Saio


A última denúncia contra Sarney é a aquisição de um castelo em Portugal adquirido por ele quando presidente do Brasil em 1990, pago em dinheiro provindo de um paraíso fiscal e não declarado à Receita Federal. Se a notícia é verdadeira, já passou a hora do chefe do Senado instituir o “dia do saio”: “Se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, digam ao povo que saio". O Dia do Fico, dez meses antes do Grito do Ipiranga, é um brado que simboliza a nossa libertação de Portugal. Mas o grito do Senado simbolizaria a independência de todos os castelos portugueses sonegados, ou seja, corrupção, falcatruas, injustiça social, desvio de recursos, impunidade etc.

Pensando bem, a vida de cada um pode ser descrita em decisões de ficar e de sair. E o grito, a coragem de decidir, depende do bom juízo. Foi este discernimento que fez o Príncipe Regente dizer: “Se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, digam ao povo que fico". Uma escolha que deveria nortear todas as nossas decisões. Ao menos é um princípio cristão: “Para o bem de todos, Deus dá a cada um alguma prova da presença do Espírito Santo” (1 Coríntios 12.7). O texto refere-se aos diversos dons espirituais – todos visando um fim proveitoso no serviço ao semelhante, que no final é um serviço a Deus. O apóstolo, no entanto, revela a chave para que os “recursos” não sejam desviados: “Porém eu vou mostrar a vocês o caminho que é o melhor de todos” (1 Coríntios 12.31). E logo adiante ele aponta a direção: “Se não tivesse amor isso não me adiantaria nada”.

Não dá para misturar alhos com bugalhos nem religião com política. Mas se no serviço público igualmente não existir o amor, o desejo de servir, então não adianta nada. Um despreendimento que exige decisão de permancer no lado da honestidade e de sair do meio da malandragem. O que não é fácil. No caso de Dom Pedro I, o custo era a própria vida: “Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro promover a liberdade do Brasil. Independência ou morte!". Se nossos políticos não têm esta disposição, então que sigam o caminho pelo qual o presidente do Senado ainda não tomou coragem de trilhar.

Mas como disse, este ficar e sair são atitudes indispensáveis a todos, príncipes e plebeus. Um grito que quer ecoar dentro de cada um contra o jeitinho da mentira e da desonestidade. Decisão que o Livro dos livros já sublinhou: “Por isto não mintam mais. Que cada um diga a verdade (...) Quem roubava que não roube mais, porém comece a trabalhar a fim de viver honestamente e poder a ajudar os pobres” (Efésios 4.25,28).

Marcos Schmidt
pastor luterano